Realiza-se no próximo dia 31 de maio o Fórum Vespa Velutina – Lisboa Atlantic POSitiVE com organização do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterináia (INIAV).
Este evento tem como objetivo disseminar os resultados alcançados através da colaboração entre cientistas e técnicos de diversas áreas para minimizar o impacto desta espécie invasora nos ecossistemas e no desenvolvimento sócio-económico da área atlântica.
Com formato presencial e transmissão online, este pretende também promover a abordagem de estratégias inovadoras e sustentáveis e dar a conhecer planos de trabalho em desenvolvimento para a gestão sustentada da invasão da vespa velutina.
Inscrições gratuitas, mas obrigatórias até 26 de maio aqui.
O departamento de La Manche financiou um programa de pesquisa cujos primeiros resultados foram considerados “muito promissores”. E já em breve contam experimentar uma armadilha nas colmeias. Os investigadores também estão a desenvolver um método para destruir os ninhos, através da projeção de vapor de fogo.
Apesar de ser originária numa região subtropical, a vespa asiática desenvolveu-se facilmente em França onde se sentiu especialmente confortável no clima oceânico ameno e húmido do oeste do país. A vespa asiática foi encontrada pela primeira vez em La Manche em 2011 e rapidamente se tornou um terrível predador em colmeias. Alimenta-se de frutas e prejudicam as colheitas dos pomares, podendo ser as suas picadas perigosas para o homem.
No ano passado, apenas neste departamento, foram destruídos 2357 ninhos de vespas asiáticas. O número de ninhos sofreu uma queda de 60% em relação a 2018, indica a FDGDON (Fédération Départementale de Défense contre les Organismes Nuisibles de La Manche). Mas porque é que a população varia de ano para ano? Como proteger colmeias e pomares? Em 2016, o Conselho Departamental concordou em apoiar um programa de pesquisa com 95 mil euros: a erradicação deste inseto invasor é ilusória, mas será possível lutar contra a sua proliferação?
Os investigadores falam a ‘língua’ da vespa asiática para capturá-la melhor
Os estudos foram confiados ao IRBI (Insect Biology Research Institute) ligado à Universidade de Tours que tentou descodificar a linguagem desta espécie invasora. “Os humanos comunicam-se oralmente. Já os insetos comunicam-se através de meios químicos, emitindo moléculas”, explica Eric Darrouzet, professor-investigador do IRBI. “Por exemplo, uma pessoa stressada vai projetar moléculas de alarme para pedir ajuda ou, pelo contrário, assustar os seus colegas para avisá-los do perigo”. Portanto, o laboratório procurou identificar componentes químicos que pudessem permitir o estabelecimento de uma espécie de diálogo.
A única maneira de ser eficaz com a vespa asiática é falar com ela. E temos de falar com ela na sua própria língua, para dizer para se ir embora ou para atraí-la para uma armadilha.
Assim, o IRBI descobriu 3 moléculas que têm a virtude de afastar a vespa asiática. “A ideia é usar essas moléculas para proteger as colmeias, estabelecendo uma espécie de barreira química. Os testes foram realizados perto de colmeias no departamento de Indre et Loire. Uma feromona parece ser repelente. Vamos testá-la agora aqui em La Manche”, diz Eric Darrouzet. Os testes terão início aquando da chegada de bom tempo.
As armadilhas para vespas asiáticas são potencialmente devastadoras para o meio ambiente
O IRBI também descobriu uma molécula potencialmente atraente. Isso permitiria que as vespas fossem direcionadas para as armadilhas. Pode ser muito útil canalizá-las para um local público onde haja um ninho. “Todas essas moléculas são produzidas naturalmente pela vespa. Elas terão de ser sintetizados para que possamos passar ao fabrico a uma escala industrial”, avisa Eric Darrouzet. Seria o culminar de cerca de dez anos de pesquisa. O IRBI planeia obter uma fórmula durante 2021, que, num mundo ideal, permitiria comercializar os produtos a partir de 2022. “Mas, ainda faltam muitos sins…”
Atualmente não há uma solução probatória para atrair vespas asiáticas. Às vezes, as armadilhas domésticas dão a impressão de serem eficazes. Mas têm o problema de atrair muitos insetos. Uma publicação científica recente mostra que, para cada vespa capturada, quase mil outros insetos caem na armadilha. “E um isco alimentar não pode ser eficaz”, insiste o investigador. “Se usarmos açúcar, a armadilha compete com outras fontes de açúcar disponíveis na natureza.” Sem mencionar que uma vespa trabalhadora em busca de proteína não será atraída para uma armadilha de açúcar. E por que matar algumas vespas quando ainda há milhares na colónia?
“É por isso que financiamos estes estudos”, insiste Valérie Nouvel, Vice-Presidente do Conselho Departamental Responsável pela Transição Energética e Ambiental. “Temos de encontrar soluções que nos permitam proteger a biodiversidade. Além disso, se quisermos que sejam utilizadas, estas novas armadilhas terão de ser baratas.”
Insolação nos ninhos
O Departamento também procurou encontrar uma maneira de destruir as colónias sem prejudicar outras espécies. Hoje em dia os ninhos tratados com inseticida são “bombas ambientais”, lamenta Eric Darrouzet. “As moléculas usadas têm um certo tempo de vida. E uma vez as vespas liquidadas, outros insetos ou pássaros vão explorar o ninho e potencialmente entrar em contato com o produto tóxico”. Recomenda-se que a remoção do ninho ocorra dois dias após o tratamento. “O problema é que tal frequentemente não é feito. E além do mais, como tirar o ninho sem o partir?”
Portanto, os investigadores viram um caminho alternativo, inspirando-se no que já existe na natureza. Na Ásia, as abelhas já encontraram o remédio: agrupando-se em torno de uma vespa asiática, conseguem elevar a sua temperatura a 50ºC, o que provoca sistematicamente a sua morte. Um tratamento por hipertermia foi desenvolvido em laboratório. Rainhas, machos e trabalhadoras tiveram de ser testadas para se encontrar uma temperatura letal.
Trata-se de destruir a colónia injetando vapor de água, método amigo do ambiente e que dispensaria a necessidade de remoção dos ninhos, que até poderiam servir de refúgio para outros insetos. “Agora temos testes a fazer para definir o procedimento de intervenção”, enfatiza Valérie Nouvel. A Vice-Presidente do Departamento faz um apelo “às empresas de La Manche que trabalhem nos processos térmicos.”
As colónias devem ser destruídas antes da época de reprodução
As fêmeas reprodutoras hibernam no inverno. Elas escondem-se num lugar com alguns machos e esperam pela primavera. Foi assim que as vespas asiáticas chegaram à França, provavelmente, por via de um individuo que chegou escondido num contentor ou navio. “O que chama a atenção é que as características genéticas da vespa asiática encontrada na Europa são muito homogêneas. Podemos imaginar que uma única fêmea originou toda a população europeia”, explica Eric Darrouzet. “E essas características são muito próximas das da espécie de vespa que mora perto de Xangai”.
Na primavera, as fêmeas potencialmente rainhas saem para se alimentar de substâncias açucaradas. “No final do inverno, é possível ver fêmeas a lutarem por um ninho’’. Em maio, algumas estabelecem-se num “ninho base” para criar uma colónia.” A colónia cresce durante o verão, o acasalamento começa em setembro e, posteriormente, a colónia diminui a partir de novembro, esvaziando-se em dezembro. “Portanto, para lutar contra o desenvolvimento das vespas asiáticas, é necessário destruir as colónias antes da época de reprodução”, insiste o FDGDON.
Qualquer que seja a época do ano, nunca deverá intervir por conta própria! Um ninho pode abrigar vários milhares de indivíduos. Ao contrário da opinião popular, a picada da vespa asiática não é mais perigosa do que a da vespa europeia. “Mas nem todos apresentamos idêntica sensibilidade ao seu veneno”, enfatiza Eric Darrouzet, que foi picado várias vezes. “Não é a mesma coisa sermos picados por uma única vespa ou sermos picados por uma centena.” A experiência mostra que, quando ameaçada, a vespa pode tornar-se agressiva. O que faz a sua fama piorar.