Melhorar os níveis de reciclagem e gestão de medicamentos vai depender dos cidadãos e da entrega dos medicamentos que não usam nas farmácias. Mas, será que sabe o que deve ou não ser entregue? E, afinal, qual é o derradeiro impacto de não proceder à reciclagem de medicamentos? As explicações são de Luís Figueiredo, diretor-geral da Valormed. Embora os resíduos de medicamentos representem uma pequena percentagem da totalidade dos Resíduos Sólidos Urbanos produzidos em Portugal, a existência de um sistema de recolha de embalagens vazias e medicamentos fora de uso é de uma grande importância. A natureza química dos medicamentos e dos seus restos e, por conseguinte, os danos que podem vir a causar no ambiente, se forem deitados no lixo comum e ecopontos ou despejados através dos esgotos, justificam que a sua entrega seja realizada num local protegido para serem encaminhados para tratamento adequado. Além disso, conservar medicamentos fora de uso pode levar à automedicação indevida e acarreta outros riscos, como intoxicações acidentais, principalmente se estiverem guardados em locais de fácil acesso a crianças. Refira-se que uma percentagem muito elevada dos agentes envolvidos em intoxicações está relacionada com medicamentos, sendo que, representam quase 60% e metade acontecem com crianças. Consciente disso, em 1999 a indústria farmacêutica, através da sua associação representativa, a Apifarma, criou a VALORMED, a que de imediato se associaram as farmácias e distribuidores, instituindo-se dessa forma um sistema autónomo e próprio para o sector do medicamento. Desta forma, “fechou-se” aquilo a que podemos denominar o “ciclo do medicamento”, que se inicia com o processo de Investigação & Desenvolvimento e termina com o tratamento ambiental dos resíduos produzidos após a sua utilização. As farmácias comunitárias são o local onde podem ser entregues e depositados os resíduos de medicamentos fora de uso ou de prazo de validade, em contentores aí existentes, sendo que a quase totalidade das cerca de 2.900 licenciadas em Portugal continental e ilhas são aderentes ao sistema VALORMED. Desta forma, com a recolha das embalagens vazias e medicamentos fora de uso ou de prazo, consegue retirar-se do lixo comum e dos ecopontos estes resíduos e evitar-se que sejam despejados restos através dos esgotos, enviando-se para reciclagem os materiais de embalagem e de acondicionamento (papel, cartão, plástico, vidro) e para incineração segura com valorização energética os e restos de medicamentos. Mas, afinal, o que deve ou não ser entregue? Devem ser entregues os medicamentos de uso humano, e também de uso veterinário que foram aí adquiridos e que já não necessitamos ou estão fora de prazo e todos os materiais usados no acondicionamento e embalagem dos produtos adquiridos (cartonagens vazias, folhetos informativos, frascos, blisters, ampolas, bisnagas, etc.). De igual modo, também os acessórios utilizados para facilitar a sua administração (colheres, copos, seringas doseadoras, conta gotas, cânulas, etc.), podem e devem ser entregues. Por outro lado, não podem ser entregues ou depositadas agulhas ou seringas, termómetros, aparelhos elétricos ou electrónicos, gaze, material de penso e cirúrgico, produtos químicos, fraldas, radiografias, enfim, todos os resíduos que não estão abrangidos pela licença atribuída. A estratégia desta entidade gestora passa por continuar a envolver e sensibilizar os cidadãos para adoção de boas práticas por um ambiente mais saudável, particularmente os mais jovens, através da abordagem de temáticas e concretização de iniciativas que, com um efeito multiplicador importante sobre a comunidade, melhorem a consciencialização ambiental e alterem comportamentos incorretos. É compromisso da VALORMED contribuir, hoje, para a educação dos actores sociais de amanhã, dotando-os dos conceitos, criatividade e da responsabilidade necessária para encontrar soluções para o grande desafio do desenvolvimento sustentável.